segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Jornalismo Colaborativo x Jornalismo Tradicional



O jornalismo colaborativo está trazendo mudanças significativas na história do jornalismo mundial. Ana Maria Bambrilla (2008) observa que o conceito de jornalismo colaborativo ainda é plural e transitório, mas já vem causando uma das maiores revoluções no jornalismo ao longo dos últimos 200 anos.

Para que um material colaborativo seja considerado como jornalístico, é necessário que se tenha em mente alguns dos princípios básicos do jornalismo tradicional. Bambrilla (2008) afirma que o jornalismo colaborativo não anula alguns valores que formam a base do jornalismo tradicional “credibilidade, identificação, proximidade, atualidade, novidade, apuração e verdade são nortes que continuam guiando todo o exercício do jornalismo” (BAMBRILLA, 2008).

A credibilidade é o princípio fundamental do jornalismo, e credibilidade, é algo que se constrói no dia-a-dia. Bambrilla (2008) cita a checagem das informações, a seriedade, o compromisso com a verdade e é claro, a identificação de quem produz o conteúdo como o caminho para a conquista e a consolidação da credibilidade.

É necessário também a presença de jornalistas profissionais para que um projeto colaborativo de produção de informação seja caracterizado como jornalístico. A figura do editor é essencial, pois “Transformar informações coletadas de quaisquer fontes em notícias não é uma tarefa simples. Requer conhecimentos especializados de ordem técnica e intelectual. E isso não é algo que possa se exigir de cidadãos-repórteres leigos em jornalismo.” (BAMBRILLA, 2008). A produção de pauta, a checagem da informação e a relevância das notícias são algumas das funções básicas do editor e sendo esses pontos cruciais para o desenvolvimento de um noticiário colaborativo, a figura deste profissional torna-se essencial.

A transformação do próprio cotidiano em notícia possibilita que o cidadão-repórter saia do papel de fonte, como seria no jornalismo tradicional e participe colaborativamente com conteúdos que fazem parte de sua realidade. Diante disso, Bambrilla (2008) acredita que a notícia tende a ser mais pura por estar mais próxima da fonte e admite que os leitores podem saber muito mais do que os próprios jornalistas em determinados assuntos que façam parte do cotidiano destes. É importante ressaltar o papel do cidadão-repórter para a pluralidade do jornalismo, afinal, “o que mantém essa diversidade é justamente o lugar de fala de cada colaborador.” (BAMBRILLA, 2008).

Além do papel de editor, a função de “entusiasta do público” é uma outra função, que necessita ser exercida por jornalistas profissionais, e esta função é essencial para a construção de noticiários colaborativos. “Ele é o maestro que orquestra a polifonia de diferentes realidades proclamadas por seus atores do cotidiano. É por intermédio do jornalista que o cidadão legitima sua atuação como repórter.” (BAMBRILLA, 2008).

Sendo a internet um ambiente de dupla-via informacional e propício à construção do jornalismo colaborativo, Bambrilla (2008) propõe a reflexão sobre a publicação imediata (sem mediação) e a importância da identificação do colaborador. A mediação torna o conteúdo mais seguro e confere mais relevância ao trabalho do jornalista, mas ainda assim, a publicação imediata não é algo tão preocupante, pois para Bambrilla (2008) os próprios colaboradores de um site se responsabilizam pela exclusão de algum usuário que tente prejudicar a credibilidade daquele ambiente colaborativo.

A identificação do colaborador é um outro princípio básico para que um material colaborativo seja considerado jornalístico, mas é necessário que o colaborador tenha em mente que ao fazê-lo ele é o único responsável sobre o conteúdo que acabou de publicar, bem como sobre a sua exposição plena a opinião publica, que pode aclamá-lo ou excluí-lo a qualquer momento. Quanto ao estilo textual, a escrita em primeira pessoa é a mais coerente com o jornalismo colaborativo, afinal os cidadãos-repórteres são os atores e autores de suas próprias histórias. Bambrilla (2008) aponta o conteúdo opinativo como sendo muito bem vindo ao jornalismo colaborativo por oferecer uma pluralidade de pontos de vista sobre o mesmo assunto.

A motivação das pessoas para interagirem entre si e com a informação é o princípio básico do processo de construção de qualquer material colaborativa. Bambrilla (2008) acredita que este princípio básico já é inerente ao ser humano à medida que este necessita do outro para legitimar a sua própria existência. “Existir pelo olhar do outro, considerar o outro para fins de si mesmo, viver em conjunto. Eis atributos de base de todo processo colaborativo.” (BAMBRILLA, 2008).


BRAMBILLA, Ana Maria. Olhares sobre o jornalismo colaborativo. In: CAVALCANTI, Mário Lima. Eu, Mídia; A era cidadã e o impacto da publicação pessoal no jornalismo. Rio de Janeiro: OPVS, 2008.

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